As consequências mais graves da actual pandemia, mais ainda do que os mais de dois milhões de mortos no mundo, parecem ser as das graves formas de sofrimento psicológico que afligem dezenas de milhões de homens.
A própria Organização Mundial da Saúde afirmou que a tutela da saúde mental é a prioridade absoluta nesta fase da pandemia. A situação de instabilidade e de desequilíbrio psicológico nasce da dificuldade do homem moderno em se adaptar não apenas a um acontecimento imprevisto, como a ameaça de um vírus invisível, mas também da dificuldade de lidar com a hipertrofia mediática de informações que enchem, confusamente, o nosso cérebro. Informações, muitas vezes, angustiantes, contraditórias, difíceis de avaliar, especialmente quando se é privado de uma grelha de valores de referência. Estas informações dizem respeito não apenas à saúde, mas, de maneira mais geral, ao futuro da sociedade. O vírus trouxe à luz a fragilidade do homem moderno, vítima do seu relativismo, vulnerável nos afectos, incapaz de gerir as situações de emergência: hoje, uma pandemia, amanhã, uma grave crise económica ou uma guerra.
O que é necessário nestas situações é o equilíbrio e a calma, precisamente o que falta ao homem do nosso tempo, agitado, inconstante e irresoluto. A calma, por outro lado, é uma disposição da alma para a tranquilidade e a reflexão que nos impele a enfrentar, com firmeza, qualquer situação contrária.
A calma é a ordem das faculdades primárias da alma, que são a inteligência e a vontade. Controlar-nos a nós mesmos, sem nunca perder a paciência, fazia parte, outrora, da boa educação ocidental e cristã. O príncipe Bernhard von Bülow, chanceler do Kaiser Guilherme II, recorda-se de ter sido, na sua infância, uma criança nervosa a quem foi inculcada, pelos pais, a máxima “mantém a calma” (Nerve behalten), que, posteriormente, constituiu um eixo da sua política. Hoje, até a boa educação se perde. O homem moderno perde facilmente a calma, cede às próprias paixões, perde as estribeiras, agride verbalmente e, às vezes, fisicamente o próximo, agita-se e, quando é derrotado, desespera.
Também acontece aos bons católicos, por vezes, perderem a calma interior, o equilíbrio das forças da alma, a paciência, que é parte da virtude da fortaleza.
Há uma calma natural, que nasce do hábito de controlar os próprios sentimentos e as próprias paixões, e há uma calma sobrenatural, que surge quando a inteligência e a vontade repousam em Deus, que é calma infinita, motor imóvel do universo.
Em Deus não existem perturbações internas, emoções, turbamentos. Deus é sempre igual a si mesmo. As paixões e os sentimentos pertencem à natureza humana e não são pecaminosos, mas podem ser colocados em ordem pelas faculdades superiores da alma.
Nossa Senhora sofreu fortes emoções na sua vida: turbou-se às palavras do Anjo, chorou no Calvário, sentiu um santo ódio contra o pecado, mas nunca perdeu a calma. O seu Coração permaneceu sempre imerso na paz divina. Ela foi sempre perfeitamente ordenada.
São José, embora contrariado, enfrentou, com perfeita calma e serenidade, momentos de imensa dificuldade, como a viagem a Belém e a fuga para o Egipto.
Jesus Cristo é o modelo da calma perfeita e inabalável. O Santo Sudário é um rosto que, no momento da dor suprema, exprime uma calma sublime, uma seriedade absoluta, um infinito amor por Deus e pelos homens.
Jesus intervém na nossa vida para acalmar qualquer tempestade que nos possa esmagar. A calma desce, após a tempestade, sobre o lago de Genesaré depois de Jesus apostrofar o mar e dizer à água: «Cala-te, acalma-te!». As testemunhas desta cena perguntam-se maravilhadas: «Quem é este, a quem até o vento e o mar obedecem?». É Ele, é Jesus, o príncipe da paz, que veio trazer a paz às almas perturbadas e desanimadas, necessitadas de esperança e de conforto.
Em qualquer situação, a calma deve dominar a agitação. Nada, nem mesmo o pecado, deve fazer perder a confiança e a calma. A calma é o recolhimento necessário para abrir a alma à Graça divina. E a Graça é o único bem a que devemos aspirar. A Graça exige a calma, a vida interior exige a calma, a luta também exige a calma e nenhuma vitória é possível sem a calma.
A alma, face ao mistério do mal ou da dor, por vezes, em vez de se abandonar à vontade de Deus, cede às tentações do rancor, da raiva, da revolta. Por isso, devemos pedir ao Senhor que nunca nos deixe cair em tentação, como diz o Pai-Nosso, com exacto sentido teológico, e que nunca nos faça perder o equilíbrio e a tranquilidade da alma.
Por isso, abandonamo-nos a Deus e dizemos-Lhe: «Faça-se a vossa vontade».