O eco das catacumbas

catacombe

Não há distinção de sepultura entre os maiores heróis da fé e a mais humilde criatura humana, dos Papas aos simples fiéis. Nos sepulcros dos cemitérios cristãos, é representada cada região e cada profissão do Império; existe toda a hierarquia eclesiástica e cada cargo militar. As catacumbas tornaram-se, desde logo, lugar de oração e de peregrinação. A visita aos túmulos dos mártires constituiu, desde os primeiros tempos, a grande meta dos fiéis espalhados pelo mundo cristão.

Os limina Apostolorum são, na linguagem arqueológica, os túmulos de São Pedro e de São Paulo em Roma, túmulos que, já por volta de 190, o sacerdote romano Caio indicava a Proclo, montanista, como os «troféus dos Apóstolos», que se erguem no Vaticano e na Via Ostiense (Eusebio, Historia ecclesiastica, II, 25). Os peregrinos ajoelhavam-se diante daqueles túmulos, para inflamar a sua devoção, repetindo, na Cripta dos Papas, as palavras da Memoria Apostolorum.       

Entre estes peregrinos, alguns vinham cumprir um voto, outros deviam expiar alguma falta grave, outros ainda procuravam munir-se de relíquias para diversos fins. Os enfermos e aqueles que deveriam obter graças excepcionais podiam prostrar-se diante do altar e introduzir a cabeça na fenestella confessionis, para endereçar a sua oração mais directamente a estes poderosos protectores. 

O primeiro explorador moderno das catacumbas foi o cavaleiro de Malta Antonio Bosio (1576-1629). Incansável nas suas pesquisas, passava, por vezes, sete ou oito dias nos subterrâneos, trazendo comida para sobreviver. Seguindo a ordem topográfica, Bosio estudou cada cemitério e recolheu as memórias a eles relacionadas, anotando todas as inscrições e descrevendo todas as pinturas. A imensa recolha de documentos apareceu, depois da sua morte, num livro intitulado Roma sotterranea (1632). Após as pesquisas de Bosio, as catacumbas não voltaram a ser estudadas, mas esquecidas, até que, por volta de 1840, surgiu o verdadeiro fundador da arqueologia cristã, Giovanni Battista De Rossi (1822-1894). Conseguiu devolver o nome a cada cemitério, fixar o seu lugar, determinar a situação dos túmulos históricos.          

Em 1850, descobriu as catacumbas de São Calisto, na Via Ápia, em 1864, o hipogeu dos Flavianos, na necrópole de Domitila, e, para os tipos da tipografia Salviucci, foi lançado o primeiro tomo de La Roma Sotterranea Cristiana, dedicado a Pio IX, seguido por dois outros tomos (1867 e 1877). No início da década de 1870, De Rossi recusou o convite do Papa para se tornar Prefeito do Arquivo Secreto Vaticano, de modo a não interromper as suas explorações arqueológicas, que continuaram inabaláveis ​​mesmo após a invasão de Roma, a 20 de Setembro de 1870.                       

Três estudiosos italianos, Mariano Armellini (1852-1896), Enrico Stevenson (1854-1898) e Orazio Marucchi (1852-1931), foram os continuadores da obra de De Rossi entre o fim do século XIX e o início do século XX. O padre Felice Grossi-Gondi (1860-1923), professor, desde 1914, de Arqueologia Cristã, na Gregoriana, sintetizou, na sua obra I monumenti cristiani dei primi sei secoli (Universidade Gregoriana, Roma 1920, 2 vols.), os resultados da escola arqueológica romana, a quem se deve a fundação do Collegium Cultorum Martyrum, para reavivar o culto dos mártires, especialmente nos seus túmulos nos antigos cemitérios cristãos. Sobre o seu sepulcro, em Verano, Marucchi quis, especificamente, esta simples epígrafe, que resumia o seu apostolado arqueológico. Diante do neopaganismo moderno, do fundo das catacumbas eleva-se uma voz que não nos impele a fugir, mas incita-nos à luta, sob o patrocínio dos primeiros mártires cristãos.